Will Eisner (1971 – 2005) é mundialmente reconhecido como um dos grandes mestres da arte dos quadrinhos. Estando no meio desde seu nascimento, nos anos 1930, foi o criador de The Spirit, uma série de histórias para jornais sobre um mascarado lutando contra o crime. Em 1978, escreveu a primeira obra classificada como graphic novel, Um Contrato com Deus. A premiação anual conhecida como “oscar dos quadrinhos”, o Eisner Awards, foi batizada em sua homenagem.

Publicado em 1985, “Quadrinhos e Arte Sequencial” é um livro baseado em artigos de Eisner acerca de arte sequencial – termo cunhado pelo próprio – e em aulas dadas pelo mesmo em seu período como professor na School of Visual Arts de Nova York. Faz parte de uma trilogia de livros técnicos, junto a Narrativas Gráficas e Anatomia Expressiva para Quadrinhos e Narrativas (este último publicado, pela primeira vez, postumamente). Mais de 30 edições já foram publicadas em língua portuguesa, sendo a mais recente de 2010, revista e atualizada. É estruturado em oito capítulos, que cobrem desde conceituação e discussões sobre o papel dos quadrinhos, estruturação à escala do quadrinho individual, até aplicação das novas mídias (mídias estas que o próprio autor conheceu superficialmente ainda).

Eisner traça paralelos históricos desde a arte rupestre, falando sobre expressão através de desenhos. Uma dos primeiros conceitos lançados pelo livro é o da leitura de bandas desenhadas como um conjunto de leituras visualmente diferentes, porém unidas e interdependentes. Além disso, discute o papel do que há por trás de cada personagem e sua história, e insistentemente discute as relações entre texto e imagem – inclusive em termos autorais. Várias de suas ideias são depois retomadas e referenciadas por Scott McCloud em sua própria trilogia sobre teoria de quadrinhos (Desvendando os Quadrinhos, Reinventando os Quadrinhos e Desenhando os Quadrinhos).

“A função fundamental da arte dos quadrinhos, que é comunicar ideias e/ou histórias por meio de palavras e figuras, envolve o movimento de certas imagens (como pessoas e coisas) no espaço. Para lidar com a captura ou o encapsulamento desses eventos no fluxo da narrativa, eles devem ser decompostos em segmentos sequenciados. Esses segmentos são chamados quadrinhos, que não correspondem exatamente aos quadros cinematográficos. São parte do processo criativo, mais do que resultado de uma tecnologia.” Intro do cap 4 – O Quadrinho.

“Afinal, quem é o ‘autor’ de uma página escrita por uma pessoa, desenhada por outra e arte-finalizada (o que às vezes inclui as cores e os desenhos de fundo) e letreirada por outras, ainda?” Trecho no capítulo 6 – Criação Escrita e Arte Sequencial
